segunda-feira, novembro 14, 2011

Mudei de ideia!

No postal anterior escrevi sobre a provável supressão de dois feriados civis, proposta do governo da república alegando razões económico-financeiras. No fundo, e estou a citar, é para trabalharmos mais, para não fazermos ‘pontes’, para não irmos tanto à praia, para evitarmos os centros comerciais, razões ponderosas que podem fazer a diferença entre cumprir o deficit ou não cumprir. Aceito, vou fazer um esforço para acreditar nisso, e por isso, mudei de opinião. Ainda assim precisamos de escolher, precisamos de sacrificar dois feriados civis entre os cinco que temos. Pois bem, é o que vou tentar fazer:

Cinco de Outubro de 1910, data do implante da república – Caríssimos, este feriado tem que continuar. Porquê?! Porque seria um absurdo (e um desperdício) acabar com ele agora! Depois de um ano inteiro de comemorações, em que se gastaram milhões de euros em discursos e exposições, não estou a ver quem se responsabilizaria pela sua eliminação!

25 de Abril de 1974, golpe militar que derrubou a segunda república – Outro feriado impossível de eliminar! Pese o facto de Otelo ter ameaçado fazer outro 25 de Abril, a verdade é que enquanto isso não acontecer, é este, o de 1974, que estamos obrigados a comemorar. E também não estou a ver a classe política, que acedeu ao poder em virtude de tal data, abrir mão dos seus pergaminhos. Portanto, repito, este feriado vai continuar.

Primeiro de Maio, dia do trabalhador – bem, este feriado até poderia acabar, uma vez que existem cada vez menos patrões e a própria juventude não parece muito virada para o risco do empreendorismo! Bem pelo contrário, apenas aspira à segurança do funcionalismo público! Nestas circunstâncias o primeiro de Maio é uma data que nos reporta ao século passado, às lutas sindicais, coisa que não faz qualquer sentido num país onde o único (verdadeiro) patrão é o estado. Porém, atendendo ao carácter internacionalista da data, e atendendo também ao facto de toda a gente se sentir ‘trabalhador’, ninguém se atreverá a tocar no primeiro de Maio. Pelo menos nos tempos mais próximos.

Portanto, e por exclusão de partes, restam dois feriados civis para sacrificar – o 1º de Dezembro e o dez de Junho, datas que bem vistas as coisas, estão um bocadinho ultrapassadas. Senão vejamos:

O 1º de Dezembro de 1640, dia da restauração da independência, perdeu naturalmente significado num país que não quer ser independente! Recorde-se que Portugal é actualmente governado por uma troika estrangeira, está reduzido à condição de protectorado, e as respectivas elites não se cansam de afirmar o seu arreigado federalismo. Ou seja, querem ver Portugal incluído noutro destino histórico, diferente dos oito séculos passados, um destino que não sabemos bem qual será, mas que deve ser concerteza uma negação daquilo que fomos! Em suma, uma inexistência!

E se não existimos, fácilmente se conclui que o dez de Junho, dia de Portugal e de Camões, é também ele uma redundância que pode perfeitamente acabar. Como aliás qualquer pessoa percebe. Basta para tanto confrontar os versos do poeta em 'Os Lusíadas' - 'Fazei Senhor, que nunca os admirados Alemães, Galos, Ítalos, Ingleses, possam dizer que são para mandados, mais que para mandar, os Portugueses...'!


Resta-me pedir desculpa aos leitores se por uma vez segui a lógica do regime republicano.

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