domingo, maio 31, 2009

Cavaco

O teu confidente
O teu conselheiro
Quase como irmão
Que subiu a pulso
Pela mesma escada
Ministro no tempo
Do teu buzinão
Caiu em desgraça
Em contradição!

Eu sei que é mentira
Que está inocente
Que é tudo legal
Maldito o sistema
Maldito o regime
Que devora os seus filhos
Sem dó e sem pena!
Mas Cavaco, e agora?

Que vamos fazer?
Olhar para ao lado!
Um caso isolado!
E será desta vez
Que alguém é julgado?!
Responsabilizado!
Ou ficamos assim
Entre o não e o sim!

Não te oiço, Cavaco!

Foi-se o conselheiro
Foi-se a alegria
O país defunto
Foi até à praia
Vai ao futebol
E sou eu que pergunto:
Cavaco, para onde vamos?

quinta-feira, maio 28, 2009

E agora, José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
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Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
.
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
.
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
.
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
.
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
.
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

José Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, maio 26, 2009

Fátima forma governo!

A lavandaria república realizou ontem mais uma sessão de esclarecimento no ‘prós e contras’ da televisão pública. Presentes quatro eminências (pardas) do regime, e a incontornável apresentadora do programa, cada vez mais parecida com a dona Maria do Salazar!
E quem eram as eminências desta vez?!
Laborinho Lúcio - um dos ‘independentes’ mais chatos da Europa!
João Lobo Antunes – mandatário oficioso de todos os presidentes da república, passados, presentes e futuros!
Henrique Granadeiro – não sei a que título!
Padre Feytor Pinto – pregador emérito e Prior da freguesia do Campo Grande!
E qual era a barrela desta vez?!
A roupa toda, desde roupa interior, camisas e colarinhos, togas e aventais, carapuços, incluindo uma pré-lavagem das almas!
Tudo em vão!
A crise, essa nódoa persistente, não havia meio de sair!
Mas Fátima não desiste, acredita no milagre em televisão, e ali mesmo convoca as eminências para salvarem Portugal de si próprio! O perigo de não haver uma maioria absoluta nas eleições de Outubro é o motivo de tamanho patriotismo!
E o milagre acontece – pardos de espanto, a plateia embevecida, os quatro independentes quanto baste, decidem-se e aceitam fazer parte da próxima união nacional.
O programa de lavagem acabou entretanto, longo e morno, não vá a roupa estragar-se.

domingo, maio 24, 2009

Dá-lhe Manela…

Ao bastonário saltou-lhe o suspensório quando a Manelinha desbocada lhe perguntou: - se fazia fretes políticos! Claro que faz mas não quer que se saiba, já fazia quando era advogado e ía à televisão (de suspensórios) defender os arguidos de pedofilia… na Casa Pia. Fiz verso, mas foi por isto e por aquilo que chegou a Bastonário. E mal chegado vestiu a cota de malha justiceira por cima dos suspensórios. Sempre, sempre, ao lado dos arguidos e foi assim que o vimos defender os arguidos do Freeport! Mas nesta coisa de arguidos há sempre uma excepção em se tratando de Sua Majestade ou ódios de estimação! Aqui o fito é diferente – precisamos de calar quem se atreva a investigar o pessoal desse reino! Pois não é impunemente que ainda somos colónia, e a tradição bastonária é defender essa gente!
Dá-lhe Manela…

sábado, maio 23, 2009

Os presidentes perpétuos!

São recrutados na curva da idade, cheios de reumático da política, mas com aquela habilidade inata para dar uma no cravo e outra na ferradura. E se o passado consente, e a confraria também, está feito um presidente. O discurso é redondo, no primeiro mandato pagam-se as facturas da eleição, no segundo equilibram-se as contas para a saída consensual, o conselho vitalício, a reforma dourada. O terceiro mandato, por enquanto proibido, segue dentro de momentos. Isto é em Portugal.
Na América do sul, mais atrevidos, a emenda constitucional está sempre disponível para acrescentar mandatos – e parece ter chegado a vez de Lula no Brasil.
O argumento habitual: - os aliados gostam, os clientes precisam. Se juntarmos os grandes accionistas internos, a emenda passa, e temos Lula para o resto da vida. Respectivos familiares e amigos.
É para isto que milhões de pequenos accionistas votam! É para isto que muitos emigram à procura de um futuro melhor!
E o princípio republicano da alternância é afinal uma mentira.

Saudações monárquicas

segunda-feira, maio 18, 2009

A frase batida…

Mesmo quando tudo parece correr bem, um pequeno deslize, uma frase infeliz, deixa-me aquele amargo na boca que só consigo resolver ou com sais de fruto ou com alguma dose de caridade.
No Cristo Rei, na homilia, Sua Eminência o Cardeal Saraiva Martins explicava (ou desculpava!) o sentido da Realeza de Cristo – ‘não no sentido triunfalista mas na acepção bíblica do termo’ – que por outras palavras significa ‘serviço aos outros’.
Mas é precisamente este o único sentido da realeza.
Para quê então desviar o assunto para o ‘triunfalismo’, numa espécie de propaganda jacobina?!
Porque não disse o Cardeal simplesmente isto: - Cristo Rei no sentido bíblico do termo. O mesmo que levou os judeus a implorar: - ‘Senhor, dá-nos um rei’.
E se quisesse podia acrescentar que foi nesse mesmo sentido que a realeza foi exercida em Portugal, em razão da dilatação da Fé e do Império (impossível de acontecer uma sem o outro) e explicação última da festa do monumento e do santuário que ali se celebrava.
E Sua Eminência podia ter referido que a república nunca quis ouvir falar em Deus e recusou-se sempre (e recusa-se ainda) a incluir qualquer referência Cristã na constituição! Dizem que é em nome da separação entre a Igreja e o Estado. Eu digo que é em nome do divórcio entre a Igreja e o Estado.
Mas quando convém, quando se aproxima o centenário, em nome da próxima união nacional, vale tudo, até uma Missa! E tal como há cinquenta anos lá estavam os dignitários políticos e lá estavam também os mesmos equívocos e as mesmas evasivas.
Mas correu tudo lindamente.

quarta-feira, maio 13, 2009

Cristo Rei

Os 50 anos do Santuário do Cristo Rei (1959-2009)
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Programa Comemorativo:
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Sábado, 16 de Maio
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12 H - Chegada da Imagem de Nossa Senhora de Fátima à Igreja de São Nicolau (Lisboa)
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15.30 H - Recitação do Terço e Missa (Terreiro do Paço, Lisboa) - Missa presidida por D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa.
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19 H - Cortejo de embarcações no Tejo acompanham a Imagem de Nossa Senhora de Fátima.
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20 H - Recepção junto à Igreja de Cacilhas - Procissão de velas em Cacilhas.
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22 H - Vigília nocturna na Igreja Paroquial de Almada
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.Domingo, 17 de Maio
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10 H - Missa presidida pelo Bispo de Setúbal, D. Gilberto Reis, na Igreja Paroquial de Almada
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11 H - Visita da Imagem de Nossa Senhora à Associação Vale de Acór, no Monte de Caparica - Alcaniça.
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12 H - Tempo de Oração no Seminário de Almada
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13.30 - Com Nossa Senhora e Relíquias de Santa Margarida Alacoque a caminho do Cristo Rei, Procissão nas ruas de Almada.
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16 H - Celebração Aniversária do Cinquentenário, presidida pelo Enviado especial de S. S. o Papa Bento XVI, Cardeal D. José Saraiva Martins - Santuário do Cristo Rei.

sexta-feira, maio 08, 2009

‘Molino que tengo en Castillejos’

Tenho um moinho em Castillejos
Selo e escritura de aquisição
Fica bem longe em Castillejos
Girava ao vento, fazia pão!

Não me conheces, nem te conheço
Nessas planuras de solidão
Há quanto tempo em Castillejos
Giras ao vento, fazes o pão?!

Se ainda existes, espera por mim
Oh meu moinho da ilusão
Que eu quero ver-te em Castillejos
Girar ao vento, fazer o pão...

sexta-feira, maio 01, 2009

Dia do desempregado

Camaradas:
Hoje é dia de marchar contra o REGIME.
Portanto, é dia de marchar contra o governo, seja ele qual for!
Hoje somos desempregados (ou subsidiados), apenas os funcionários públicos (e os comissários políticos) têm emprego certo!
Hoje é dia de dizermos basta de canções de Maio, basta de punhos cerrados para nos enganar, de sindicalistas para nos dividir, porque com este folclore não nos governamos.
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Mais obras públicas para quê?!
Para dar trabalho precário e um salário de miséria aos imigrantes… enquanto os portugueses têm de continuar a emigrar?!
Para fingir que acompanhamos o progresso! Quando naquilo que é essencial – educação, saúde e pensões de reforma - ocupamos sempre os últimos lugares da união!
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Mais auto-estradas para quê?!
Para continuarmos a receber tudo o que vem da Europa (ou será da China e de outros países não comunitários!) com toda a facilidade!
Para adiarmos a necessária rede ferroviária que sirva os portos (e aeroportos) portugueses! Ou os actuais governantes ainda não perceberam que Portugal quer dizer ‘terra de portos’! De bons portos!
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Marchamos também contra o vício dos subsídios, instilado de cima, desde a adesão à união europeia. Vício que se transmitiu a toda a população, como uma doença, uma pandemia.
Não precisamos de governos cuja única função é distribuir (e filtrar!) subsídios comunitários! Precisamos de um governo (e de um regime) que restabeleça a confiança, que mobilize os portugueses no sentido de criar riqueza.
Criar riqueza para a distribuir melhor. Não podemos manter o maior fosso europeu entre ricos e pobres! E isto é como a pescadinha de rabo na boca - se desconfiamos da distribuição, produzimos menos.
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E chega de hipocrisia no relacionamento com as ex-colónias (Brasil incluído)! Se de facto precisamos uns dos outros nada melhor que uma política de verdade, articulada, sem perdermos de vista que os países, tal como os homens, não se medem aos palmos.
Cada um tem o seu desígnio histórico.
E se já nos esquecemos do nosso, lembremos a vida e a obra do Santo Condestável.
Ser independente é bom.