sexta-feira, outubro 31, 2008

Dois Magalhães para Espanha

A história é conhecida, Sócrates resolveu aproveitar a Cimeira ibero-americana, a decorrer em El Salvador, para oferecer um computador Magalhães a cada um dos participantes.
Ora bem, sabendo que são 22 os países representados, e sabendo também que Portugal não ofereceu nenhum computador a si próprio, apetece lançar daqui uma adivinha – afinal quantos computadores ofereceu Sócrates?
Fiz a mesma pergunta no centro educativo onde trabalho e a resposta veio óbvia mas errada. Todos responderam 21. Claro que Sócrates ofereceu 22 computadores, tal como Lula o teria feito se fosse ele o ofertante. O vigésimo segundo computador, decerto o primeiro, foi naturalmente entregue ao Rei de Espanha. Zapatero recebeu um computador pela representação dos interesses da Espanha na conjuntura; o rei, que torna compreensível a Cimeira, recebeu o Magalhães da História.
Fácil de entender.
E nós? Nós que somos o outro país ibérico colonizador, onde deixámos o nosso representante?! Aquele que justifica a participação?!
Triste e inutilmente, lá fomos em duplicado, mas a léguas de distância da representação inteira, cabal, com que a Espanha sempre se apresenta!
A história anda de facto à nossa procura… mas a gente tem vergonha… e esconde-se!
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Saudações monárquicas.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Eleições na América

É o assunto obrigatório, quem será o novo César!
E os portugueses andam preocupados com isso, parecem dependentes do respectivo resultado! Mas há excepções. Por exemplo, a minha cadela (que se chama ‘Bolacha’) está-se borrifando para as eleições americanas. Tem lá a sua vidinha e desde que não falte a ração tanto lhe faz que o próximo presidente seja o incolor Obama ou o candidato republicano mais a sua vice miss Alasca. É-lhe completamente indiferente. E eu nestas coisas até a compreendo – toda esta esperança nasce afinal de uma ficção política muito conhecida e que se repete entre nós a cada eleição presidencial, a saber : - o candidato vencedor gosta de dizer no seu primeiro discurso que é ‘o presidente de todos os portugueses’! A cadela não acredita nisto, e eu também não.
Mas muitos acreditam e transportam esta ficção para as eleições americanas pensando tratar-se da eleição do presidente do mundo e não do presidente dos Estados Unidos da América! E aqui começa o enredo e o engano – a verdade é que seja quem for o eleito também ele se estará borrifando para os interesses alheios, pois tem a sua própria agenda e escala de prioridades, que não anda muito longe disto: em primeiro lugar terá de satisfazer os interesses de quem lhe pagou a campanha; depois virão os interesses da potência imperialista que vem explorando e submetendo o planeta à sua voracidade; finalmente, conta com aliados submissos que lhe sirvam de escudo contra os inimigos que crescem ao ritmo das suas ‘proezas’.
Por isso, não espero nada de César, o que tivermos que fazer em prol da comunidade a que pertencemos terá de ser feito por nós, portas adentro. Quanto à minha vidinha (e da cadela) também terei de ser eu a olhar pelos dois.

Saudações.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Ajudar a república

Vamos lá ajudar o regime a sair da crise, do beco sem saída em que se meteu, mas para isso é preciso acabar com este ‘jogo do empurra’, que consome e arrasa a nação, um jogo infantil em que as sucessivas repúblicas se vão justificando umas à outras – a terceira a garantir que nos libertou da ditadura da segunda, as saudades da segunda a reclamarem o fim da balbúrdia da primeira. Temos que acabar com isto rápidamente, porque não tarda virá uma quarta república (já se ouvem aliás os seus tambores) que dirá que nos vem libertar das crises internacionais que importamos e com as quais nos desculpamos! E terá por certo razão, como todas as outras, basta-lhe para tanto invocar a realidade insofismável – o fosso entre ricos e pobres não cessa de aumentar, e nesta matéria ocupamos as piores posições em todos os rankings!

Portanto o que há a fazer é o seguinte: em primeiro lugar temos que ser capazes de realizar um referendo, um acto terapêutico que nos liberte dos fantasmas do passado, e que ao mesmo tempo responsabilize os portugueses pelo regime que têm e que afinal escolheram. Não está em causa a vitória da república, que será natural, até esmagadora, o importante será o próximo passo – o que fazer com essa vitória?!
Assim responsabilizados, sem mais desculpas, governantes e governados serão obrigados a olhar para o futuro e se houver alguma lucidez (e humildade) estaremos em condições de nos reconciliarmos com a história, com a nossa história, feita de erros e virtudes, como é uso entre os homens.

Talvez então se imponham (a todos) algumas alterações na estrutura representativa, a benefício de Portugal, como por exemplo: atribuir a um rei e a uma dinastia a representação do vínculo histórico que nos une; incluir nessa representação as várias repúblicas (regiões autónomas que já existem e aquelas que poderão vir a existir) que compõem o universo lusófono; e de uma maneira geral seguir a lógica representativa dos valores que em determinada época se consideram permanentes.
Ao chefe de estado republicano caberia a restante representação, nomeadamente aquela que faz sentido corresponder aos anos do respectivo mandato.

E quem sabe se não descobriríamos (por alguma razão fomos descobridores!) que existe uma duplicação inútil no nosso sistema representativo (onde primeiro-ministro e chefe de estado concorrem na mesma legitimidade) e não suprimíamos um dos cargos!
Uma hipótese para o futuro, um futuro sem preconceitos políticos colectivos nem complexos de inferioridade individuais.

Saudações.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Mudar de vida

Prometo, não toco em nada, na crise que todos falam, prometo passar ao largo, mas se é global como dizem, se não vem da natureza, terei também que assumir a quota parte de culpa que me cabe neste transe, nesta parcela que habito, onde vivo e onde voto, nas coisas que não preciso e que compro sem poder, muitas vezes a dever, mas o pior é que faço do consumo a minha regra, e aumento sem saber a perversão que hoje existe, sem horizonte ou remédio, desligada da memória, desligados uns dos outros, recurvados no umbigo, perdeu a vida o sentido e moralista não sou.
Para obviar ao que digo vou olhar o firmamento, contar as estrelas do céu, descobrir nas madrugadas o cheiro que a terra tem e agradecer a beleza bem criada por Alguém! Faço parte deste todo, sozinho não sou ninguém. Para conseguir tudo isto eu só vejo uma saída – vamos ter que mudar de vida.

sexta-feira, outubro 10, 2008

A bolsa ou a vida!

Assim de repente, o mundo reduzido a uma escolha tão simples, nem sei que lhes diga, talvez a bolsa! Talvez a vida!

Não tive escolha, como não tinha bolsa tive que dar a vida! Depois levaram-me ao cimo de um monte e ofereceram-me a resignação. Lembro-me bem, estávamos nesse tempo a celebrar as exéquias do comunismo, o muro tinha caído, e diziam-nos que o mercado era a porta da felicidade. Não acreditei, mas já era tarde, executivos e gestores irromperam pela sala, apresentaram-me os números e fizeram-me sentir o inútil que sou. Estava a mais, e por mais contas que fizessem estava sempre a mais! Reagi, falei na produção, que a empresa era antiga e já tinha passado por outras tormentas… Meu Deus, o que eu fui dizer! Alvejado com nova rajada de números ouvi a temível previsão – a continuarmos assim estamos perdidos.
Saí com a noção patriótica de que se não saísse a empresa não se salvava.
Num último gesto de solidariedade despedi-me da telefonista prestes a ser substituída por um gravador de voz.
O mundo girou entretanto, a engenharia e euforia financeiras instalaram-se, os executivos foram enriquecendo mas a empresa foi empobrecendo.
Hoje está mal, não se recomenda. E, como as demais, espera ansiosamente por uma ‘mãozinha’ do Estado!

segunda-feira, outubro 06, 2008

Estranha sensação

Para que serve um blog?! Pergunta mil vezes repetida, com múltiplas respostas, eu respondo por mim: - serve para isto, para partilhar sentimentos com o desconhecido e alguns conhecidos, serve para falar sozinho, sem grandes esperanças e também sem grandes ilusões…
Dirão os mais argutos e graciosos: - serve para escrever disparates.

Ontem tentei seguir o diálogo na ‘câmara clara’ entre um monárquico e um republicano. Via um bocadinho e desistia, mudava de canal, voltava mais tarde e voltava a desistir, não que a conversa não merecesse atenção, eram dois historiadores que se conheciam bem, a troca de opiniões situava-se num nível intelectual elevado, em clima ameno, e pareceu-me que no essencial estavam de acordo – estas celebrações do centenário da república (ou da implantação da república) deveriam servir para pensar. O republicano queria pensar no que falhou na primeira república e o monárquico talvez quisesse pensar no que falhou na monarquia.
Mas eu desistia porque aquilo era triste e porque o tom desencantado de ambos confirmava os meus sentimentos. A verdade é que falhámos e as celebrações tratam disso mesmo – de um país falhado.
E andamos a justificar, a desculpar, a esconder algo que incomoda e nos separa irremediávelmente uns dos outros. Por isso, as palavras mansas já não me alegram, cavada no fundo da alma fica uma estranha sensação de distãncia de todo este aparato.
Repito, a data é triste, divide, e qualquer festejo é mais um passo no sentido contrário de Portugal.

sexta-feira, outubro 03, 2008

A casa da república

Lavra forte estupefacção pelo país surpreendido que ficou com os critérios de distribuição de casas que a Câmara de Lisboa vem efectuando, pelo menos, ao longo destes últimos vinte anos. Eu tenho menos dúvidas porque sei perfeitamente onde vivo e o que a casa gasta.
Com efeito, se recuarmos um pouco no tempo começamos a compreender que a Câmara de Lisboa é uma herança do partido republicano (e da maçonaria) que a conquistou em 1908 através de eleições livres e democráticas ainda na vigência da monarquia constitucional.
Foi a partir da Câmara que ‘treparam’ depois até à república própriamente dita, (os métodos são conhecidos) e foi do seu varandim que no dia 5 de Outubro de 1910 acenaram à multidão de ‘adesivos’ que acorreu à Praça do Município para saudar o novo regime.
De então para cá e especialmente depois de Abril de 1974 a Câmara voltou a ser trampolim ou via verde para o acesso a Belém, o que vem confirmar que continuou a ser ocupada (com as naturais excepções) por pessoas da mesma estirpe.
Portanto é lógico que os actuais herdeiros se sintam proprietários da Câmara e como qualquer proprietário agem em conformidade. Não têm que definir critérios, aquilo é deles e distribuem as casas a quem muito bem entendem. É costume, é legal e ponto final.
Como por outro lado também são proprietários da ética – a célebre ética republicana – não existe mais nada a acrescentar.

Saudações monárquicas.