quinta-feira, novembro 22, 2007

Pobres e mal agradecidos

Desde que o homem chegou que não falhamos uma fase final, situação que nunca vivemos no passado, foi também ele que incendiou o ardor patriótico que envolve a selecção, que faz sonhar um povo descrente, em crise de identidade, que apenas se revê naqueles onze rapazes a correrem atrás de uma bola, e espera deles a absolvição de todos os pecados! Tudo isto se deve ao ‘tio’ Scolari.
Mas como na fábula, já se sabia que ‘quem semeia ventos colhe tempestades’. Não adianta explicar aos portugueses que a selecção não é tão extraordinária como eles imaginam, ou como os media diáriamente nos impingem. Temos de facto dois ou três jogadores acima da média, titulares indiscutíveis em grandes clubes europeus, mas que podem estar lesionados ou em melhor ou pior forma, porque os restantes são apenas bons jogadores, semelhantes a muitos que se encontram por esse mundo fora. Scolari bem nos avisa, mas o povo não quer saber, avança para o estádio plenamente convicto de que os ases lusitanos infligirão a desolação e a derrota a quem se atreva desafiá-los. Ronaldo e Quaresma hão-de trespassar as defesas com fintas humilhantes, a goleada é obrigatória!
Quando finalmente verificam que os adversários resistem, e que para chegar ao próximo Europeu foi preciso sofrer a bom sofrer, os ‘patriotas da selecção’ não se conformam, desatam num berreiro, e vá de zurzir no pobre seleccionador nacional! É caso para perguntar: - o que teria acontecido se não têm conseguido o apuramento?!
Scolari deveria ter falado comigo antes de aceitar tal tarefa, este pesadíssimo fardo de aturar uma nação alienada, que não tem onde se agarrar, que não vislumbra horizonte… ou então, se o homem insistisse, citaria os romanos quando por aqui passaram: - “não se governam, nem se deixam governar”!

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