domingo, julho 02, 2006

Variações sobre um penalty

O inglês Carragher colocou a bola na marca e afastou-se, de costas voltadas para a baliza. Inesperadamente, deu meia-volta, correu e disparou para o lado esquerdo de Ricardo. A bola entrou mas não valeu, porque o árbitro ainda não dera o sinal. Durante todo este tempo Ricardo não se mexeu, impassível, sabendo da irregularidade do lance.
A pergunta é, o que terá levado Carragher a fazer aquilo? Correndo o risco de ‘queimar’, de reduzir desde logo as hipóteses de uma nova tentativa para um dos lados da baliza! Neste caso, o lado esquerdo de Ricardo, para onde já tinham rematado sem êxito, Lampard e Gerrard!? Um erro, que acordou de vez o mítico penalty defendido por Ricardo no último Europeu, sem luvas e para o mesmo lado!
Neste tremendo jogo psicológico, Carragher não quis medir-se com Ricardo, olhos nos olhos, teve medo de denunciar as suas intenções, e isso talvez explique aquela atitude, naturalmente condenada ao insucesso porque o árbitro só apita para a marcação da grande penalidade a partir do momento em que os dois jogadores se enfrentam, assegurando que estão ambos a postos. Carragher temeu demais esse instante.
Foi no meio deste vendaval de emoções que o jogador inglês arrancou para a bola, sabendo que teria de rematar para o outro lado, para o lado direito de Ricardo, aliás, segundo a lenda, o pior lado dos guarda-redes dextros, mas Ricardo estava avisado, simulou atirar-se para a sua esquerda, voou para a sua direita e defendeu com classe.
A bola desviada da rota mortífera pela mão direita de Ricardo, e de todos os portugueses, ainda seguiu na direcção do ferro da baliza, que a devolveu definitivamente.
E a variação fica assim concluída: o tiro seco, rasteiro, era práticamente indefensável se não se visse envolvido em tantos pequenos nadas, em tanta fantasia, a que ninguém escapa, nem Carragher, nem Ricardo, nem eu.
Para não falar da Senhora de Caravaggio, maila Senhora de Fátima.

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