quinta-feira, abril 27, 2006

Um discurso de boa vontade

“É possível identificar os problemas mais graves e substituir o eterno combate ideológico, por uma ordenação de prioridades, metas e acções”...num País “fortemente marcado pelo dualismo do seu desenvolvimento”.
Apesar do “inegável progresso registado em alguns sectores de actividade”...”essas experiências de vanguarda não conseguem impregnar todo o tecido económico e social, coexistindo nichos de modernidade com expressões de indisfarçável arcaísmo social e cultural”.
“Profundas disparidades revelam-se na leitura do território. É cada vez maior o fosso entre as regiões marcadas por uma ruralidade periférica e as regiões mais urbanizadas”. Que se traduz “num mau viver resignado, sem qualidade e sem horizontes”, e acentua “a dupla exclusão do envelhecimento e da pobreza”.
Mas, “a mais marcante das disparidades que emergem deste Portugal a duas velocidades é a que resulta das desigualdades sociais”. No quadro da União Europeia, Portugal é país “que apresenta maior desigualdade de distribuição de rendimentos. E é também aquele em que as formas de pobreza são mais persistentes”.
“Não é moralmente legítimo pedir mais sacrifícios a quem viveu uma vida inteira de privação”.
Cabe-nos transmitir “ um País mais livre, mas também uma sociedade mais justa”.
Assim falou o Chefe de Estado Republicano, nas comemorações do 25 de Abril de 2006!
Que dizer?
É o retrato de um País do terceiro mundo, clássico, que construímos com orgulho e erro nos últimos trinta e dois anos. Retrato ainda mais sombrio quando se sabe que foi custeado exclusivamente pela União Europeia, na condição de nos desenvolvermos de acordo com os parâmetros civilizacionais há muito estabelecidos para a Europa Ocidental, para o primeiro mundo.
Com a agravante de nos termos desenvencilhado, sem honra, de compromissos históricos, lançando na miséria e na guerra populações inteiras, nos vários territórios que estavam sob nossa administração...há séculos!
Cavaco Silva disse a verdade sobre a situação, pena é que não possa fazer nada quanto a isso. Nem ele, nem nenhum outro Chefe de Estado republicano.
Seria necessário, antes do mais, acabar com as comemorações de guerras civis. São estúpidas, deseducativas e transmitem uma mensagem errada à população!
São estúpidas porque dão a ideia que os portugueses que existiam no dia 24 de Abril de 1974, eram diferentes ou eram outros, no dia 25!!! O mesmo se diga relativamente ao dia 27 e 28 de Maio de 1926! Ou a 4 e 5 de Outubro de 1910, etc.etc.
São deseducativas, e por isso também são estúpidas, porque dão a ideia que existem portugueses maus e portugueses bons, e que uns são sempre maus e os outros são sempre bons!!! É que pode haver quem acredite!
Por último, transmitem uma mensagem errada, convencendo os incautos, que os que perderam a guerra, golpe ou revolução, estão muito contentes nesse dia de ‘festa’!
Nestas condições de rotativismo recriminatório, sem referências, inapelávelmente divisionista, ninguém se salva, muito menos o Presidente.
Ainda que tenha razão.

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