Estamos em vésperas de mais um 25
de Novembro, quarenta anos depois daquele que deu início a esta terceira república, e pelo
que nos é dado observar também devemos estar próximos do seu fim.
Com efeito quando o presidente da
república se vê forçado a entregar o governo a quem perdeu as eleições, porque
de repente alguém nos quer convencer que os deputados têm a mesma legitimidade
representativa que o presidente da república! E quando ao mesmo tempo um
ex-primeiro ministro, indiciado por crimes graves, organiza almoçaradas de
apoio não se sabe bem a quê! Quando tudo isto acontece com a maior das
naturalidades! Temos que concluir que um país destes não pode ser levado a sério.
Sobre o golpe do Costa não é de
mais lembrar que se trata de uma fraude. Já expliquei que embora a constituição
diga que os eleitores votam em deputados, a verdade é que a lei eleitoral, habilmente
arquitectada, ilude este princípio, acabando os eleitores por votar em partidos!
Neste sentido podemos até dizer que a lei eleitoral é inconstitucional!
Na realidade os deputados são agrupados
em listas e quem os escolhe para essas listas são os respectivos chefes
partidários. Nestas condições os eleitores não podem responsabilizar os
deputados pelo seu desempenho. A fraude está aqui. E é por isso que a
assembleia da república, ao contrário do que sustentam os golpistas, não tem uma representação
directa dos eleitores. Não há ali portanto nenhuma maioria óbvia a sustentar a
vontade popular.
Cavaco Silva, esse sim, tem representação
directa do eleitorado, mas colocou mal a questão desde o início. A questão é de
fraude política, o eleitorado sente-se defraudado, e Cavaco insistiu em tratar
o caso como se não houvesse golpe. Deveria ter cortado cerce a aventura do
Costa usando argumentos de natureza política e sem medo de colocar em crise a capacidade dos deputados para impedirem o governo eleito de
governar. Teria (ou terá!) de ser assim se queria salvar a ‘sua’ terceira
república.
Quanto ao último episódio
Sócrates, ele é tão penoso e tão triste que não me vou alongar em grandes
comentários. Alerto apenas para a possibilidade de haver ligação entre o golpe
do Costa e a agitação socrática.
Saudações monárquicas
Nota importante: Já depois de ter
escrito este postal tomei conhecimento das exigências que Cavaco fez a Costa.
Exigências por escrito. O PS diz que vai mandar uma carta a dizer que sim a
tudo, enfim, uma brincadeira. Não sei se isto é para levar a sério mas Cavaco
Silva tem uma derradeira oportunidade para sair bem deste filme. Nem que
renuncie alegando o seguinte: que não dá posse a um governo que não se
compromete verdadeiramente com nada; e que a sua renúncia é o processo mais
rápido para devolver a palavra aos portugueses.
Mas pelo andar da carruagem não vai ser nada disto que vai acontecer. Cavaco não terá uma saída limpa e Costa terá a sua entrada suja. É o país que temos... e que queremos ter.
Mas pelo andar da carruagem não vai ser nada disto que vai acontecer. Cavaco não terá uma saída limpa e Costa terá a sua entrada suja. É o país que temos... e que queremos ter.
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