segunda-feira, fevereiro 01, 2010

A lição da república – o crime compensa

Ninguém sabe (até hoje) quem mandou matar o Rei e o Príncipe;
Conhecem-se os autores dos disparos, os jagunços, mas ninguém se responsabiliza pelo crime;

Ninguém sabe quem mandou matar Machado dos Santos, herói da rotunda e da república;
Conhecem-se os carrascos, cabo Olímpio, de alcunha ‘dente de ouro’, mais a sua trupe de marinheiros, mas nenhum órgão político, nenhuma organização ou confraria reivindicou o crime;

O mesmo aconteceu com Carlos da Maia e António Granjo, ministros da república e que também foram assassinados às mãos do ‘dente de ouro’;

Ninguém sabe quem mandou matar Sidónio Pais, presidente da república;
Conhece-se o autor, Júlio Costa, mas não se conhece o mandante;

Ninguém sabe quem mandou matar Humberto Delgado;
Num processo duvidoso e acintoso que visava atingir a segunda república ou justificar a terceira, apenas foi possível acusar e julgar à revelia um agente da polícia política, entretanto desaparecido, e que sabemos agora estará provávelmente inocente. É que a pistola incriminatória não foi afinal a arma do crime. O general Humberto Delgado e a sua secretária foram mortos à paulada, de acordo com o relatório forense; o estranho da situação é mais uma vez a ocultação da verdade e o silêncio;

Ninguém sabe quem mandou matar Sá Carneiro;
Sobre este assunto tudo se tem feito ao longo dos anos para manter a dúvida e a irresponsabilidade;

Este é o processo da república e das forças mais ou menos ocultas que a sustentam. Um centenário (cento e dois anos, para sermos precisos) em que foram assassinados dois chefes de estado, o príncipe herdeiro, um candidato à chefia de estado, dois primeiros-ministros, entre outras figuras, maiores ou menores, que têm algo em comum: - tornaram-se um empecilho aos desígnios de quem comanda esta marcha gloriosa para o abismo.

Mais recentemente, e a propósito de outros crimes, como os relatados no processo da Casa Pia, e por estarem indiciadas altas figuras do regime, o figurino é o mesmo - sabe-se que um funcionário da Instituição (o Bibi) praticou esses crimes mas não se sabe (e provávelmente não se vai saber) mais nada.

Publique-se e mande-se celebrar.

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