domingo, outubro 07, 2007

Variações sobre a degenerescência

“Maria Albertina como foste nessa de chamar Vanessa à tua menina! …Maria Albertina não é um espanto, mas é cá da terra, tem outro encanto…”.

Lembro-me de António Variações, e hoje, perante o interesse que desperta, dou comigo a pensar nas razões submersas da sua popularidade! Não tinha grande voz, nunca estudou música, o seu destino trágico, igual a outros ícones do seu tempo, contribuiu sem dúvida para compor a personagem, mas parece-me que a sua aura mergulha em águas mais profundas.
“Para a frente não havia nada…”, diria numa das canções que são afinal a história da sua vida. Segue recordando, passo a passo, a partida, a aventura da emigração, a vida difícil do deslocado, a alma que não cabia dentro do corpo, “só estou bem onde não estou…”, os erros assumidos sem a facilidade da justificação, ”cabeça que não tem juízo, o corpo é que paga…”! A ética ficou sempre de pé e nunca renegou a tradição. Tradição no único sentido conhecido: – sou um herdeiro, não renegarei a herança.
É por aqui que eu vou, é por aqui que a sua mensagem permanece – assumir a herança significa, por exemplo, não ter vergonha de usar o nome dos antepassados, significa não ter a petulância e a vaidade de escolher nomes por catálogo, sem significado, só porque estão na moda, ou simplesmente porque sim. A tradição é caminho comum, o contrário da tradição é degenerescência. Alguns chamam-lhe o homem novo, e a história ri-se.

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