terça-feira, outubro 23, 2007

Pobres

Reflectir sobre a pobreza, quando ela nos passa ao largo, é uma actividade interessante, a nossa televisão debruça-se muito sobre o tema, e ontem, sem querer, lembrei-me de um dos personagens do escritor russo Nicolau Gogol. Era o homem rico da terra, que à saída da Missa e no adro da Igreja gostava de se inteirar sobre o estado de pobreza dos seus conterrâneos! Muito meticuloso nas perguntas, aprofundava o assunto até ao ponto de saber exactamente o que lhes faltava para deixarem de ser pobres. Depois, despedia-se até ao próximo Domingo.
Mas a primeira parte do programa, especialmente a intervenção de Bruto da Costa, acabou por clarificar a questão dos números: somos dois milhões de pobres, ou seja, 20% da população, e desses dois milhões, 80% são pobres porque trabalham ou estão reformados! Ficámos também a saber que para esta maioria esmagadora não existe qualquer política especial, nem para ela são canalizados quaisquer fundos para além de complementos de reforma para esconder uma indignidade maior.
Outra verdade impossível de escamotear sentencia que se trata de um problema que em trinta anos nenhum governo de Abril conseguiu sequer atenuar!
Com estas informações desligámos o televisor incapazes de assistir ao massacre da pobreza aliviada… de um pobre deste país.

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