sexta-feira, junho 30, 2006

Associação Vale De Acor na primeira linha da recuperação e integração social


Uma entrevista com o Padre Pedro Quintella, responsável pela comunidade que traz esperança de vida a muitos que a demandam.

A Associação Vale De Acor é uma instituição ligada à Igreja de S. Tiago (Almada) e a um grupo de cristãos voluntários, que se dedica à recuperação de pessoas toxicodependentes , com uma comunidade que está instalada na Quinta de S. Lourenço.
Possui a maior estrutura protocolada do país (77 camas) e é dirigida por um sacerdote nascido na freguesia da Trafaria - o padre Pedro Quintella, - que conhece como ninguém a realidade da luta contra este grande flagelo da sociedade: a toxicodependência.

Almada - Visitou as instalações da comunidade e ouviu o Padre Quintella que explicou as fases de intervenção, o modo de funcionamento da instituição, fez considerações à política oficial de combate e falou dos apoios que recebem.

Padre Quintela (P.Q.) - As formas de intervenção estão divididas em três categorias: Primária, Secundária e Terceária. A intervenção primária é evitar que as pessoas consumam drogas. Nós não nos dedicamos a isso, mas sim às pessoas que já caíram nas suas malhas, que não são capazes de superar a situação por si próprias e que vêm aqui pedir ajuda. Portanto situamo-nos na área de intervenção secundária.
Fazemos também alguns trabalhos de intervenção terceária, que é o de procurar devolver á cidadania pessoas que estavam mal, ajudando-as e acompanhando-as no regresso à sociedade e à comunidade.

Almada - Como se processa a intervenção?
P.Q. - Fazemos uma recuperação que não tem compensação química. Primeiro: não se substitui uma droga por outras, ou seja, os anti-opiáceos, os inibidores de consumo, substâncias com efeitos psicotrópicas. Segundo: temos uma preparação em internamento, que é a fase mais complexa, uma preparação para uma outra fase mais importante; Terceiro: damos grande importância à família, na qual nos inscrevemos, como os inventores das famílias na fase de integração. Um grande valor é dado à família no processo de reinserção; Quarto: damos grande relevância ao acompanhamento das pessoas na reinserção. Não basta fazer a recuperação. As pessoas regressam ao seu emprego, amigos, família e durante um ano, ano e meio, vamos acompanhando, ajudando-os a afastarem-se de nós. Quinto: as nossas intervenções não são só terapêuticas. Da equipa fazem parte um psiquiatra, psicólogos, sociólogos. O click da nossa intervenção tem a ver com uma preocupação educativa. Não basta que as pessoas não se droguem, não basta que as pessoas tenham um maior conhecimento sobre si próprias, é preciso que as pessoas tenham outros valores, outros objectivos, e possam dar outro sentido e significado à vida . Ao mesmo tempo que se desenvolve um processo terapêutico, passa um processo educativo.

Almada - Tivemos oportunidade de verificar que o horário diário é muito preenchido.
P.Q. - Há aqui um regime puxadíssimo, com um horário muito intenso. Temos aqui técnicas psicológicas que provocam grande tensão. As pessoas são chamadas a dizerem o que pensam e o que sentem, porque o não dito é para nós o princípio da evasão.

Almada - Existe alguma limitação para o ingresso das pessoas ?
P.Q. - Não. À parte de situações dramáticas que vão surgindo e que temos interesse em trabalhar com a Câmara, porque no país não está coberta a situação de adolescentes que já têm consumos pesados de drogas, não é nada saudável que um rapazinho com 15 ou 16 anos seja aqui internado com gente que tem mais de quarenta e por diante. No país não está coberta a faixa da adolescência. Não é que apareça muita gente, mas de facto há uma população de adolescentes e às vezes crianças a injectar-se ou a fumar drogas, com 11, 12 anos... Com heroínas, inclusive. É muito comum, com essas idades, começarem a fumar charros. Mas o grande grosso que nos aparece é da faixa entre os 25 e 30 anos.

Almada - As pessoas que aqui trabalham são voluntárias?
P.Q. - Temos muitos voluntários. Cerca de 50 passam por cá regularmente, médicos voluntários, enfermeiros voluntários... O pessoal que está cá a tempo inteiro não é retribuído pelo valor de mercado. Houve gente que aqui trabalhou, uma série de anos, com formação universitária e nem vou dizer quanto auferiram. Há aqui situações que não têm preço Somos amigos da igreja, ligados uns aos outros.
Consumo e panaceias

Almada - Qual o papel que o Estado assume neste âmbito?
P.Q. - O Estado tem 1300 camas para recuperação, das quais, há uns tempos estavam 500 por ocupar. Um número alucinante. Ouve um tempo em que tudo foi convergindo no sentido de se querer construir estruturas para a recuperação das pessoas, pois agora, depois de uma grande hesitação, enveredou-se por outra direcção e o objectivo da prática do Estado não tem sido recuperar mas sim o sustentar com outra higiene a vida de consumo.

Almada - Refere-se ao uso da metadona?
P.Q. - A metadona pode ser usada em circunstâncias muito específicas , muito controladas. A metadona não pode ser a panaceia dos doentes e muito menos da classe política. Eles perdem muita perigosidade alimentados com a metadona, mas isso não é uma recuperação.

Almada - Não acaba com a dependência?
P.Q. - Não. Não acaba. Eles depois passam a multi-usos. São cidadãos de segunda. Ninguém admite um trabalhador que esteja na metadona... Para nós é importante que o Estado não alimente cidadãos de segunda. A metadona cria uma sociedade «a duas velocidades».

Almada - Quer dizer com isso que a metadona é desaconselhada de todo...
P.Q. - Não é de todo. Há, situações em que é tolerada, por exemplo, nas mulheres grávidas, doentes terminais, situações transitórias. Em 1996, em Setúbal as pessoas começaram com o consumo e ainda hoje «estão» na metadona. Ouvi um técnico do Estado dizer que eram precisos 7 a 8 anos para obter resultados. Isto é uma enormidade. Para nós é importante que a metadona fosse em ordem a um tratamento, neste momento, a prática parece-nos mais que ela seja um estacionamento.

Almada - Voltando à questão do consumo: Acha que tem aumentado?
P.Q. - Sim. Em Portugal tem-se vindo a aumentar insistentemente. Há uma tendência no país de baixar a média de idades de pessoas que consomem heroína. Acabo de ler ontem o relatório da Organização Internacional do Controlo de Estupefacientes (OICS) que funciona no seio das Nações Unidas e nesse relatório dizia-se que: no ano 2000, na Europa, houve um aumento nítido de consumo de cocaína, anfetaminas, extasy, mas também muita heroína. Agora com a crise do Afeganistão é muito provável que venha por aí muita heroína barata. E ela vindo mais barata, as pessoas consomem o que lhes surge. O dependente é propenso à moda que o tráfico inventa.

Almada - As inúmeras campanhas feitas não deveriam ter contribuído para uma eventual diminuição do consumo?
P.Q. - Felizmente, 95% dos jovens não são dependentes de droga, nem tiveram contactos com ela. Não há o perigo da sociedade se tornar toda consumidora, mas há que saber o que é que fazemos com os que consomem, e o que há a fazer para que outros não entrem . Hoje as pessoas estão mais informadas, mas esta informação tem efeitos de tal maneira cínicos, que a pessoa diz: Não vou para a heroína, mas vou para os "shots" alcoólicos. Isto acontece com a gente nova. Já sabem que a heroína rebenta com a pessoa em três anos, então preferem rebentar-se aos bocados. Há aqui efeitos perversos. Deixa de se usar as drogas perigosas e avança-se para outras.

Acompanhamento e apoio da Câmara

Almada - Que apoios têm recebido ?
PQ - Somos uma instituição da Igreja. Católica, que ajudou com verbas. Temos um acordo com o Ministério da Saúde para as despesas fixas; temos o apoio do Banco Alimentar, com uma boa vontade muito grande; e depois temos colaborado, com muita correcção de parte a parte com o Município. Um entendimento muito sério e honesto entre as partes. A senhora Presidente tem-nos visitado com muita regularidade. Nós pensamos que prestamos aqui um serviço que serve o país e o concelho, que o qualifica em termos de solidariedade e com a excelência do trabalho que aqui vai sendo feito.

Almada - As instalações da comunidade são vossas?
P.Q. - Foi também a Câmara que nos pôs em contacto com o IGAHPE e conseguimos um comodato por 50 anos.

Almada - Todo o trajecto seguido até aqui o satisfaz? Que perspectivas para o futuro?
P.Q. - Sim. Faz-me muito bem aquilo que faço aqui: toda a primeira linha do testemunho das coisas grandes e bonitas que Deus faz com os homens. Com a colaboração de todos, com a lealdade de todos, com a generosidade de muita gente. As coisas têm corrido bem. Deus permita que continuem.
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Fonte: Boletim Municipal de Almada.

quinta-feira, junho 29, 2006

Vieira ajudou

Ouvi ontem um dos ‘Sermões’ do Padre António Vieira em que o jesuíta pedia ‘explicações’ a Deus, imagine-se a coragem, sobre as rapinagens holandesas no norte do Brasil e em outras paragens que estavam sob o domínio português.
Vieira queixava-se com razão, argumentando que se Deus nos tinha concedido evangelizar terras e gentes por esse mundo além, não era justo que agora consentisse que piratas ‘laranjas’, desobedientes à lei de Cristo, andassem por aí sem vergonha, a ocupar, roubar e a maltratar portugueses!
Um último ‘desafio’ e um ultimo queixume: que se era para nos tirar, aquilo que com tantos sacrifícios soubemos manter para honra e glória de Nosso Senhor, seria melhor que nunca nos houvera dado!
Parece que a Divina Providência aceitou a razão e acolheu a súplica do destemido pregador, porque em breve seriam os holandeses expulsos do Brasil para nunca mais lá voltarem. A assinalar o feito, fica a lembrança das batalhas travadas nos ‘montes guararapes’, a sul de Pernambuco, onde em grande inferioridade numérica, portugueses, mestiços e índios potiguares, levaram de vencida a poderosa armada holandesa.
Depois a história é conhecida, nomeadamente a seguir à Restauração da Independência, em que fomos recuperando persistentemente o que nos havia sido roubado.
Hoje, para quem assistiu à ‘batalha de Nuremberga’ que opôs de novo portugueses e holandeses, num jogo de futebol, não pode deixar de pensar que os argumentos (e os queixumes) de Vieira ainda fazem fé na Corte Celeste.

terça-feira, junho 27, 2006

As lições de Nuremberga

Não há um árbitro português no campeonato do mundo; não há um treinador português no campeonato do mundo; dirigentes portugueses, com responsabilidades no futebol mundial, é melhor nem pensar nisso; a Europa e o mundo não precisam do discurso redondo, atento e obrigado, habitual na grande maioria dos nossos capatazes mais ou menos desportivos; não obstante, temos dos melhores jogadores do mundo, jogadores que quando bem comandados conseguem impossíveis! Conseguem ser uma autêntica equipa!
Ao fim de quarenta anos chegámos de novo aos quartos de final de um campeonato do mundo de futebol, não porque nas anteriores participações não tivéssemos também grandes jogadores, até melhores do que os de hoje, mas não tivemos na altura a oportunidade ou a sorte de ter um seleccionador que assumisse uma liderança indiscutível, com coragem e independência.
Em cada lance, nas contrariedades próprias do jogo, nos momentos infelizes, todos sentimos, dentro e fora do campo, que a cadeia de comando estava bem firme, bastava um olhar, a expressão resoluta, o acompanhamento constante de todas as peripécias que iam sucedendo, essa força íntima que se transmite, e que faz com que pessoas vulgares se transcendam nos momentos decisivos.
Naturalmente que também faz diferença e muita, o facto da maior parte dos jogadores actuarem em países e campeonatos muito competitivos, onde não se toleram comportamentos inferiores ou infantis. O contrário exactamente do que se passa por cá, e não por culpa dos jogadores, mas de quem (não) manda, de quem os deveria formar e orientar.
Aquilo a que assistimos em Nuremberga, num mero jogo de futebol, pode bem ser o pretexto para reflectirmos sobre as nossas proverbiais incapacidades, e na melhor forma de as superarmos.
Dito de outra maneira, podíamos formular a seguinte questão: porque é que vamos mantendo um sistema político, com reflexos em todos os subsistemas, que impossibilita o desenvolvimento natural das capacidades de um país que afinal não é tão pobre como convém, e de um povo, que afinal tem potencialidades insuspeitadas mas que raramente consegue exprimi-las portas adentro!
Não antecipo conclusões, mas desconfio que o problema está onde sempre esteve, ou seja, nas falsas elites que por aqui desgovernam, em compadrio permanente, que se servem sem servir, que apregoam a democracia para os outros, e que a esta hora estão a comemorar, na televisão ou na Alemanha, a vitória da selecção!
Talvez fosse o tempo de pensarmos num centro de estágio, ou numa nova academia, para fabricar e treinar verdadeiras elites que assegurem o futuro de Portugal.
Saudações monárquicas.

domingo, junho 25, 2006

O interesse nacional

Qual é o interesse nacional em Timor?
A pergunta é para ti, português suave, que tens a cabeça metida dentro da televisão, e ainda não descobriste se o ‘Merche Ronaldo’ usa saltos altos ou não!
Mas a pergunta também serve ao Cavaco que não quer intrometer-se nos assuntos internos de um país independente! Independentemente de ter sido ocupado por forças armadas de outro país, o nosso bom aliado australiano, aliado para tudo menos para o petróleo!
A pergunta estende-se, não ao Sócrates que tem mais que fazer, mas para o Freitas, que não se ouve, mas não pode deixar de se ouvir, e por uma vez, sem se esconder atrás de siglas incompreensíveis! Será capaz?!
Para São Bento, àquela gente que gostamos de eleger periodicamente, é melhor não perguntar nada, é uma pergunta repetida, repetida mil vezes à nossa consciência, e que a nossa consciência se recusa a responder!
Em poucas palavras, o Torga disse tudo: “Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.”
Esta é que é a questão, hoje e sempre, não em Timor, mas em Portugal.
Queres responder?

quinta-feira, junho 22, 2006

Bandeiras negócio da china

Negócio de bandeiras da china, china negócio de bandeiras, bandeiras negócio da china. Nem com a bandeira ganhamos dinheiro!
O negócio é dos chineses, pois claro, eles é que têm os pagodes para vender ao pagode! Eles é que dominam os encarnados, os vermelhos são eles, o verde bandeira fica mal, mas imprime bem, já está: sai uma bandeira sem castelos, com pagodes, para o pagode. É sempre a aviar!
Então, e as empresas nacionais! Não conseguem concorrer com a bandeira ‘chinesa’?
Está mal. Era um nicho de mercado, um ‘cluster’, espero não me ter enganado!
O Governo é que anda distraído com o choque tecnológico, o Presidente também, porque senão já tinha pensado no assunto.
Eu penso sem filosofar: queria ver os chineses a fabricarem a bandeira azul e branca, com a coroa e as armas de Portugal, sem pagodes, sem aldrabices. Eles não têm os azuis que nós temos, a coroa para eles é chinó, a contrafacção seria muito difícil, dávamos logo por ela.
O negócio era nosso!
Assim não é, produzem em série o “verde encarnado terceiro mundo”, depois metem pagodes aqui, estrelas ali, foices e martelos acolá, rodas dentadas para quem quiser, o cliente é que manda.
É um negócio da china!

quarta-feira, junho 21, 2006

Oração da Mestra

“Senhor! Tu que ensinaste, perdoa que eu ensine; que tenha o nome de mestra, que Tu tiveste sobre a Terra.
Dá-me o amor único pela minha escola; que nem a queimadura da beleza seja capaz de roubar-lhe a ternura de todos os instantes.
Mestre, faz-me perdurável o fervor e passageiro o desencanto. Arranca de mim este impuro desejo de justiça, que ainda me perturba, e a mesquinha insinuação que sobe quando me ferem. Não me doa a incompreensão nem me entristeça o esquecimento das que ensinei.
Dá-me ser mais mãe do que as mães, para poder amar e defender como elas o que não é carne da minha carne. Dá-me que alcance fazer de uma das minhas crianças o meu verso perfeito e deixar-Te cravada nela a minha mais penetrante melodia, para quando os meus lábios não cantarem mais.
Mostra-me possível o Teu Evangelho no meu tempo, para que não renuncie à batalha de cada dia e de cada hora por ele.
Faz-me forte, ainda que no meu desvalimento de mulher e de mulher pobre; faz-me desapreciadora de todo o poder que não seja puro, de toda a pressão que não seja da Tua vontade ardente sobre a minha vida.
Amigo! Acompanha-me! Sustem-me! Muitas vezes não terei ninguém senão a Ti a meu lado. Quando a minha doutrina for mais casta e mais ardente a minha verdade, ficarei sem os mundanos; porém, Tu me oprimirás então contra o Teu coração, ele que eu soube farto de solidão e desamparo. E eu não procurarei senão no Teu olhar a doçura das aprovações.
Dá-me a simplicidade e dá-me profundidade; livra-me de ser complicada ou de ser banal nas minhas lições quotidianas.
Dá-me levantar os olhos do meu peito ferido, ao entrar cada manhã na escola.
Que não leve para a minha mesa de trabalho os meus pequenos afãs materiais, as minhas mesquinhas dores de cada hora.
Aligeira-me a mão no castigo e suaviza-a mais na carícia. Repreenda com dor, para saber que corrigi amando!
Faz que eu faça de espírito a minha escola de ladrilhos. Que a envolva da labareda do meu entusiasmo, o seu átrio pobre, a sua sala despida. O meu coração seja mais uma coluna e a minha boa vontade mais ouro que as colunas e o ouro das escolas ricas.
E por fim recorda-me, desde a palidez da tela de Velasquez, que ensinar e amar intensamente sobre a terra é chegar ao último dia com o lance de Longinos* no costado ardente do amor”.

Gabriela Mistral

* Nome do soldado que segundo a tradição trespassou Jesus com a lança.

sábado, junho 17, 2006

O Príncipe em Timor

Uma pequena notícia num jornal de grande circulação dá-nos conta da presença do Senhor Dom Duarte de Bragança em Timor.
A verdadeira e única solução para um Timor autónomo, fiel às suas tradições, unido, independente e equidistante dos apetites australianos e indonésios, está de visita àquele território e ninguém dá por isso! O próprio jornalista português que divulgou o acontecimento não se coibiu de desvalorizar o assunto: quando o Duque de Bragança lamentava algumas decisões governamentais, nomeadamente a que retirou poderes aos “Liurais”, os tradicionais chefes indígenas, o nosso repórter remata com ironia – “sempre a sua veia monárquica”!
Se isto é o que se pensa por cá, vejamos o que acontece por lá, nas entrelinhas do mundial de futebol: A GNR deve estar mais ou menos aquartelada, para não se sujeitar ao vexame de ficar sob o comando do protector-invasor australiano.
Estes, preparam um contra ataque diplomático para garantirem a sua tese: Timor é actualmente ingovernável, não tem condições para ser um País independente, tem divisões insuspeitadas, para já entre lorosaes e loromunos, e nós, australianos, queremos mais... petróleo!
O ministro Freitas vai cobrindo, dolorosa e inexplicavelmente, as costas do primeiro-ministro Sócrates, tentando que a ONU assuma responsabilidades e ‘comando’ em Timor.
Alkatiri conspira, Xanana desaparece atrás da sua mulher australiana, a população amedrontada esconde-se onde pode, os jovens que nasceram e cresceram sob o domínio indonésio, erram pelas ruas, espalham a violência, não respeitam ninguém.
Talvez que um dia se perceba, sem ironia, o valor da autoridade ancestral e ao mesmo tempo as consequências do seu vazio. Porque a ‘democracia’, mesmo a da Fretilin, para ser útil, tem uma condição prévia, o respeito pelos outros, principalmente pelos outros que nos precederam.
No caos instalado, a Igreja Católica simboliza o último dique ao desmoronamento, a única convergência de futuro.
Mas insisto, a solução simples, que não queremos equacionar, está neste momento em Timor, a lembrar como foi possível viver quinhentos anos em paz e sossego!

quinta-feira, junho 15, 2006

Corpus Cristhi

Liberdade

- Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me movia.

- Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Miguel Torga (1975)

terça-feira, junho 13, 2006

Decoro e bom senso

Começo por lembrar aos caríssimos visitantes deste interregno que sou aquilo a que se pode chamar um antiquíssimo adepto do futebol.
Menino e moço vi futebol nas Salésias, fui praticante, dizem que com algum jeito, e pela vida fora sempre fiz do Domingo à tarde, um dia de ‘bola’. Isto para esclarecer que nada me move contra o desporto-rei, antes pelo contrário. Tenho até, como alguns sabem, um blog dedicado a esse assunto.
Mas se tudo isto é verdade, não esperem encontrar por aqui qualquer apoio à onda de histerismo colectivo, impensável, mesmo para quem se habituou a ouvir que o futebol era, durante o ‘antigo regime’, o ópio do povo. Pois se era, ultrapassou as barreiras de classe, atacou a burguesia, instalou-se nas ‘elites’ bem pensantes, e passou a ser consumido por toda a gente, a toda a hora!
Desculpem-me, mas não estou preparado para no fim de um jogo de futebol, ver e ouvir o primeiro-ministro de Portugal a fazer comentários às incidências e ao resultado da partida! Parece-me um pouco de mais, mesmo considerando que se trata de um jogo a contar para o campeonato do mundo da modalidade...disputado na Alemanha!
A seguir apareceu o Durão Barroso...e ainda fui a tempo de ser esclarecido por um ex-presidente da república, o omnipresente Sampaio! Estavam lá todos!
Afinal, ‘o espírito de Sevilha’ não se perdeu, frutificou, criou raízes.
Mas o que é isto!?
Será que a seguir ao jogo da Inglaterra, o primeiro-ministro inglês estava ali, disponível, para dizer umas baboseiras sobre o que se tinha passado!? Será que a imprensa japonesa andou a correr atrás de algum ministro nipónico para lhe pedir um comentário sobre a derrota da equipa do Japão!?
Enfim, se souberem alguma coisa, digam-me, posso estar enganado.

Entretanto e já que estamos aqui, aproveitemos o tempo para estudar o fenómeno das migrações através deste jogo entre Portugal e Angola!
Se olharmos com atenção para a equipa das quinas, para lá do equipamento terceiro mundista, conseguimos chegar a uma primeira conclusão: trata-se de uma selecção de emigrantes, orientada por um imigrante, muito apoiada por emigrantes e que representa hoje em dia um país de emigrantes e imigrantes.
O símbolo desta selecção é Deco: um imigrante, que se tornou português, para ser emigrante!
E em Angola o que temos: uma selecção de jogadores também emigrantes, que jogam em clubes portugueses modestos, alguns jogadores com a profissão de contínuos, caso de Mateus, outros desempregados, como o guarda-redes, equipa muito apoiada por imigrantes, e orientada por um angolano!
É caso para dizer, as voltas que o mundo dá e as voltas que o discurso político também dá! Não foi assim há tanto tempo que ouvi Mário Soares a gritar: Portugal vai deixar de ser um país de emigrantes! Os que cá nascerem terão paz, pão, trabalho, habitação...como cantava a canção!
Parece que sobrou qualquer coisa, ou então, é para acrescentar...imigração em massa das ex-colónias, incluindo o Brasil!
Quem diria! Em apenas trinta anos!
Uma dúvida: serão imigrantes ou refugiados da miséria, da fome, da guerra, do socialismo, dos tiranetes que por lá mandam?
Deixemos isso, Portugal ganhou, é tudo o que interessa!
Para chatices, já basta o dia a dia.
Saudações monárquicas.

domingo, junho 11, 2006

Enforquem-se com a verdade desportiva

Isso mesmo, apertem bem os cachecóis da alienação, até à asfixia, e depois gritem bem alto “viva a verdade desportiva”! Se ainda há fôlego, quero ouvir o guincho: viva o futebol português! E descansem em paz.
Não cumpram a lei, não punam os infractores, que não é preciso. Sejam felizes, agitem as bandeirinhas, distribuam já as medalhas, comecem pela Liga, sigam para a Federação, não se esqueçam do secretário de estado, seja ele qual for.
Azia? Mau perder?
Erro. Isto não tem nada a ver com o Belenenses, não é um ‘particular’ entre Belenenses e o Gil Vicente, como andam para aí a enganar as pessoas, isto tem a ver com o cumprimento ou incumprimento duma norma simples e objectiva: quem recorrer para fora do ordenamento desportivo para aí obter uma vantagem sobre todos os outros competidores, é punido com a descida de divisão.
Mateus não podia jogar no mesmo ano na condição de amador e profissional, esta a questão. Conseguiu ultrapassar essa impossibilidade recorrendo aos tribunais comuns e jogou, até marcou golos, mas isso é indiferente. A Académica protestou, o Vitória de Setúbal também protestou, invocaram os motivos que entenderam invocar, o que também é indiferente, porque quem deve zelar pelo cumprimento das normas que regem o futebol profissional é a Liga e a Federação, porque são estas entidades que as produzem e que dispõem dos competentes organismos jurisdicionais.
Repito, não cabe aos clubes, individualmente, assegurar o cumprimento do normativo desportivo que todos se comprometeram voluntariamente a respeitar.
Não cabe portanto ao Belenenses a iniciativa de suscitar uma questão que era há muito do conhecimento da Federação e da Liga! Não se enganem, o eventual ‘beneficiado’ com o cumprimento da lei, não é o Belenenses, são todos os clubes da Liga, incluindo o Gil Vicente. Se assim não acontecer, o futebol não tem qualquer credibilidade pois cada um faz o que lhe apetece, desde que conte com o ‘colaboracionismo’ infame dos ‘donos da bola’!
Foi aliás o que se passou vergonhosamente esta semana na Comissão Disciplinar da Liga, onde aconteceu de tudo: Um filho do vice-presidente do Gil Vicente que deixou de o ser quando chegou ao Porto, uma votação assumida em Lisboa que se alterou no Porto, um ‘voto de qualidade duvidosa’, não previsto para um órgão com numero ímpar de membros.
E sem que tenham ocorrido outros factos, a não ser uma diferença de latitude, e uma viagem de um dirigente da Liga com um envelope, pelos vistos violado, o envelope, claro.
Vir, depois disto, falar de verdade desportiva, obtida dentro das quatro linhas só pode ser brincadeira de mau gosto! Mas realmente explica, e de que maneira, qual é a verdade desportiva que esteve presente no desenrolar do campeonato.
Esta cena edificante que já levou à demissão de dois juízes e à extinção, por falta de quórum, da dita ‘comissão disciplinar da liga’, promete realmente desenvolvimentos interessantes e pela minha parte espero que cale de vez essas virgens ofendidas que gostam de proclamar a verdade desportiva quando não estão em causa os interesses dos clubes do estado, com letra pequena.
Termino com este desafio entre o Belenenses e o resto do mundo: se entendem que é ilegítimo que o meu Clube, o provável beneficiado pela aplicação da lei, aceda à primeira Liga por um motivo qualquer que não vislumbro, realizem o próximo campeonato com quinze clubes, porque o Gil Vicente, esse, a ser cumprida a lei, tem que descer.
Saudações desportivas.

sábado, junho 10, 2006

Uma estrofe ao acaso

“Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são para mandados,
Mais que para mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só de experimentados,
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe,
Mais em particular o experto sabe.”

“Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões

quarta-feira, junho 07, 2006

Dependências

Evito, e nem sei se faço bem ou mal, opinar sobre matérias que fazem parte da minha actividade do dia a dia, que exprimem vivências onde existe grande sofrimento, e em que se fica sempre com a sensação de que as teorias, por mais explicativas, nunca atingem o cerne da questão: o homem e esse mal-estar interior que o leva a percorrer caminhos de dependência e solidão.
Depois, para falar de dependências, nada melhor do que começar pelas nossas, tantas vezes ignoradas ou escondidas atrás de comportamentos aparentemente saudáveis, só aparentemente livres!
Por isso evito e acabo por mudar de tema.
Acontece que sou muitas vezes confrontado com a ignorância triunfante, afinal tão comum, que faz parte inclusivamente do discurso oficial, aquele que aposta em políticas de ‘redução de danos’ ou de ‘substituição de drogas por outras drogas’, em lugar de combater frontalmente o flagelo, autêntica epidemia que vai assumindo sempre novas formas, e que não recuará perante medidas meramente apaziguadoras.
É assim que vejo as dependências e o seu combate:
O princípio básico nesta matéria reside na coragem do diagnóstico, que deve ser capaz de pôr em causa o nosso estilo de vida, chamar o mal pelo mal e o bem pelo bem, sem tergiversações, sem medo de ser atingido pelas suas próprias armas.
Sempre existiram e sempre vão existir dependências, vícios, mas não estamos a falar disso. Estamos a falar de um pandemónio que se abateu sobre a humanidade e cujas causas ninguém quer ouvir falar!
Porque será?
Naturalmente porque elas nos conduziriam às ideologias dominantes, àquelas que ditam os nossos comportamentos actuais, que conformam o quotidiano das nossas vidas: o materialismo, o ateísmo, o egoísmo, e outros “ismos” mais ou menos semelhantes.
Como consequência, a escalada dos baixos instintos, a destruição ou relativização de valores básicos civilizacionais, conquistados com tantos sacrifícios, e que vão submergindo neste mundo que tudo descarta e consome!
Termino como comecei: o verdadeiro problema não são as substâncias, mas os comportamentos que nos levam às dependências. As substâncias funcionam como mera ‘bengala’, sem esquecer que há inúmeras dependências que não usam sequer substâncias, como é bom exemplo, o vício do jogo.
Perceber as causas e assumir a realidade da própria dependência, são o único caminho para a liberdade.
Quase que apetece repetir: “Um doido quando sabe que está doido, já não está doido”.

terça-feira, junho 06, 2006

A guerra dos dias

É uma espécie de contra-cruzada, lançada de longe pelas forças ocultas que não se conformam com a herança Católica, que não se conformam com o calendário gregoriano, nem se conformam com a história!
Se pudessem eliminar o dia de Natal, o seu significado religioso, não hesitavam.
Não se trata, infelizmente, de mais uma teoria da conspiração, porque já tentaram fazê-lo explicitamente a seguir à Revolução Francesa, mudando os nomes dos meses, apagando os dias santos, com o objetivo de edificarem uma religião de Estado com calendário próprio, mas dessa vez, o povo e a memória resistiram. Não vão desistir, e sempre que podem avançam, normalmente apoiados pelos idiotas de serviço.
Estes distinguem-se fácilmente pelas posições contraditórias que adoptam, a respeito de datas. Por exemplo, a propósito do Natal, repetem – “Natal deveria ser todo o ano”. Quando por outro lado se objecta contra a desnecessidade de andar a instituir dias disto e daquilo, reagem dizendo – “ é uma maneira das pessoas se lembrarem do ‘evento’, ao menos uma vez por ano”!
Assim esclarecidos passa a haver dias para tudo, ao sabor da moda, do interesse, da imaginação mais ou menos doentia. Mas a finalidade óbvia é, não temos dúvidas, desvalorizar e banalizar as datas de culto religioso, e já agora também político, apagando da memória dos povos episódios relevantes da sua história, mas porventura incómodos para a prossecução de fins inconfessáveis.
Só que as coisas nem sempre correm bem! No seu afã de mostrar serviço, os tais idiotas úteis às vezes exageram, desorientam-se e caiem no ridículo.
Foi o que aconteceu quando avançaram para “o dia do cão”, esquecendo e atropelando uma série de pessoas e animais que estavam em fila de espera!
Não se faz, foi mau para os cães e para os respectivos donos.
Na altura lembrei-me apenas da imagem de marca de uma célebre editora de discos: “His master’s voice!”!

sexta-feira, junho 02, 2006

Eu não sou eu!

É verdade, fui ultrapassado pelo escriba deste ‘espaço’, que texto atrás de texto se vai paulatinamente afastando do seu autor e mestre! Situação insólita que noutras circunstâncias já teria merecido um forte puxão de orelhas ou ao menos uma conversa de homem para homem. Mas vai ter de ser.
É caso para dizer que este ‘jsm’, me saiu melhor que a encomenda!
Senão vejamos:
Eu sou de facto monárquico, mas muito mais acomodado, muito mais pachorrento, sem as crises voluntaristas de que parece padecer o meu indisciplinado discípulo!
Também sou Católico, claro, mas o cruzado que habita dentro de mim, há muito que despiu a cota de malha, há muito que deixou enferrujar a velha armadura. Ao contrário, e sem que o possa refrear, ‘jsm’ esvoaça inquisidor pelos claustros, frequenta o culto com mais assiduidade do que eu, transformou-se num peregrino que não consigo acompanhar! E quando tento, acabo derreado, exausto.
E depois temos o problema dos tiques: um certo anti americanismo até compreendo, embora tivéssemos combinado disfarçar, mas com franqueza, o Professor Salazar não merecia as invectivas deste ‘antifascista’ fora de prazo!
Inexplicavelmente, e pelo que tenho lido, simpatiza ou condescende com personagens do Índex, como o Dr. Jardim da Madeira, ou o ‘defunto’ Santana Lopes, e outros figurões que nem me atrevo a mencionar.
Um outro tique que está a assumir uma feição patológica, é aquela mania das autonomias por tudo e por nada! Aqui temo o pior, a situação parece-me que já está fora de controle, até do próprio ‘jsm’!
E abstenho-me de comentar a recente veia poética...com a qual tenho sido bastante tolerante!
Noutra vertente, toda a gente sabe que sou do Belenenses! Pois bem, nem de propósito, aqui as coisas invertem-se! Eu sou muito mais faccioso do que ele! Anti-benfiquista de longa data, tenho a justa fama de mau perder e de provocar discussões em toda a parte.
Entretanto o que faz o sonso do ‘jsm’?! Aparece-me moderado, cordial, armado em desportista!
Não há paciência! Vou ter que pôr este indivíduo na ordem.
Enquanto isso não sucede, os textos aqui publicados terão de ser olhados com alguma reserva, incluindo este.