quarta-feira, fevereiro 01, 2006

‘A lembrança das datas’

Quem hoje se cruza comigo na cidade vive este dia com a tranquilidade dos inocentes! E faz bem, mas ninguém está inocente.
O transeunte que me olha, que me pergunta as horas apressado, não sabe que já não tem nada a ver comigo. Respondo-lhe apenas porque falamos a mesma língua, o que resta em comum, mas se me pedir para ir defender a sua terra não irei, nem ele irá defender a minha!
No dia de 1 de Fevereiro de 1908 quebrou-se o ultimo elo que nos irmanava, que nos unia como comunidade pátria, tantas vezes ferida, muitas vezes maltratada, mas nunca antes decapitada. Os tiros que no Terreiro do Paço mataram o Rei, liquidaram-nos como nação livre e independente. E fizeram de todos nós criminosos.
E porque o pecado original também existe em política, ele só será redimido pelo arrependimento colectivo, por um acto público de contrição que ainda não fizemos.
Que ninguém pense que este é um dia de luto para os monárquicos. Bem gostariam que assim fosse os que lucraram e lucram com a situação. Desenganem-se.
Os monárquicos apenas têm consciência da ferida aberta, mas quem tem que a fechar somos todos nós. Com os representantes da nação à cabeça.
Assim fez Boris Ieltsin, em plena Duma, pedindo que a História lhe perdoasse a ele e ao povo russo pelo crime também hediondo perpetrado sobre os Romanoff.
Volto ao princípio, aquele transeunte nem sabe do que estou a falar, e se soubesse, diria que estou doido varrido.
Mas quem sabe do que estou a falar, quem ousou construir o que quer que fosse sobre o crime do Terreiro do Paço, sabe que não há volta a dar, a não ser desfazer o nó que vai sufocando Portugal.
E já é tarde...

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