sábado, novembro 26, 2005

Os sítios da minha rua

Sou um animal de hábitos, gosto de frequentar os mesmos sítios, as mesmas ruas, sentir que o mundo começa e acaba no meu quarteirão. Existem outros bairros, outras avenidas, cafés e cinemas mais atraentes, mas é aqui que me sinto bem. Mudei-me há pouco tempo, estou ainda a ambientar-me, mas já vou conhecendo pessoas e lugares.
E depois, para um ‘miguelista ultramontano’, (na feliz expressão que me identifica), já não existem muitas surpresas. Este bairro está muito bem, tem tudo o que preciso.
É uma rua direita, sem curvas, sem sobe e desce, mas o que mais aprecio, é a sua solidez. É raro aparecer um buraco, vê-se que foi feita no bom tempo!
A volta diária segue a rotina: - ‘paro’ no ‘Sexo dos Anjos’, inteiro-me das notícias, pergunto pelas novidades, e tenho que admitir, confio no dono do estabelecimento. Escreve com elegância e clareza, sobre assuntos que me interessam e ainda me adverte, generosamente, para outras leituras importantes! Já aconteceu devolver-me à procedência – para ler melhor o que escrevi! Daqui ao Pasquim é um pequeno salto. Para dizer a verdade, leio o Corcunda desde que me iniciei nestas lides, e não me esqueço que os seus comentários, foram incentivos que me ajudaram a continuar!
Mas os deveres chamam-me – vou estudar ao ‘Combustões’, admiro aí o talento, e se for caso disso, leio com inveja a prosa escorreita na ‘Nova Frente’. Depois do almoço, a bica é outra vez no ‘Sexo’, sem qualquer problema. Entretenho-me por ali, ponho a escrita em dia.
À tardinha vou arejar – entro no deslumbrante ‘Misantropo’ com os sentidos despertos – é o melhor estabelecimento da zona! Tenho afinidades com o ‘encarcerado’ e gostamos de tagarelar. É quase perfeito, pena aquele plebeísmo... encarnado!
No regresso passo pelo ‘Santos’, já tivemos as nossas divergências, mas sei que estou a jogar em casa. Espreito ainda o ‘Ultimo Reduto’, que também é Belém, e vou jantar com o Velho da Montanha. Somos da mesma idade, temos os mesmos gostos, já não temos paciência para algumas coisas, enfim, um encontro de velhos companheiros (de armas).
À noite, pela calada, tomo um aperitivo no Portugal Profundo, porta aberta (e corajosa) a ventos e marés, e dali, sigo para o incontornável (e imprevisível) Dragão. O dito, é um homem de génio, intratável. Vá-se lá saber porque é que simpatiza comigo... e eu com ele!
De resto, as visitas obrigatórias aos estabelecimentos monárquicos, e, um indispensável salto a Aljubarrota (de Vila Viçosa), para abraçar e incentivar o nosso jovem Condestável!
Falta só falar das visitas:
Aos que frequentam a minha ‘casa’, só posso dizer, sem ser cartomante ou borda d’àgua – que são pessoas inteligentes, cultas e bem formadas! Uma excelente ‘reserva da república’!!!
Já agora esclareço, que também trabalho (até aos sessenta e cinco anos – antes de Sócrates!). E que há alturas na vida em que um homem precisa de desabafar.

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