sexta-feira, outubro 21, 2005

“Há quatro orientes”

À volta da mesa estavam sentados cinco comissários presidenciais. Curiosamente, o número dos partidos representados na Assembleia da República! Se rápida e inadvertidamente fizéssemos as contas, chegaríamos à conclusão que havia um partido com dois candidatos, e inversamente, um candidato para dois partidos. Mas as coisas nunca são tão simples.
Eu estava sentado defronte.
O centro de mesa era ocupado pela incontornável Judite, que virava e revirava os olhos para um e para o outro lado. Sorriso permanente, mas não sou capaz de definir se era prazer ou dor!?
Enquanto ouvia mais ou menos desinteressado a conversa, fui apanhando algumas coisas – palavras soltas, tiques, umas sentenças aqui e ali. Mas houve revelações importantes.
Chamou-me a atenção o facto, de pelo menos três dos comissários, garantirem que os seus candidatos eram rigorosamente apartidários. Eram a reserva da República, que à vista do naufrágio iminente da Pátria, tinham saído de suas casas, recolhido umas assinaturas, para se sujeitarem ao voto dos portugueses. Achei bonito!
O comissário de Jerónimo e a pequena Drago não confirmaram a tese. Estavam ali para outra coisa e não esconderam: fazer propaganda partidária pura e simples. Também achei bonito.
Judite continuava a virar-se e a revirar-se porque o diálogo era sobre a esquerda e a direita! Os comissários, aparentemente todos da esquerda, acusavam no entanto um deles, de ser da direita. A conversa estava neste ponto quando surgiu a frase da noite, proferida em primeira-mão pelos chineses – “há quatro orientes”!
A revelação foi demasiado forte. A grande arquitecta, que estava ali por Alegre, reagiu de imediato e esclareceu que havia mais um oriente – o que tinha a mania de estar sempre por cima! Houve uns momentos de silêncio e desnorte, até que Roseta desfez as dúvidas, dizendo que se estava a referir a Cavaco! Ultrapassado o incidente, o comissário de Soares, exemplificou sobre a produtividade na Ásia, afinal o grande oriente que faltava, e confirmou que Mário era o candidato do futuro.
Depois de mais esta revelação importante, o debate baixou nitidamente de nível, com a pequena Drago a interromper sistematicamente o comissário de Cavaco, revezando-se nessa tarefa com o nosso sósia do “Duce” (semelhança física, naturalmente). Aguentei enquanto pude, mas tive que desligar a televisão.
Estava em causa a próxima Chefia de Estado, mas ninguém conseguiu subir o indispensável degrau. Falaram do que são capazes – de contabilidade.

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