sexta-feira, junho 10, 2005

O Regime à defesa

A IV República, ainda não oficialmente empossada, já aí está, já começou a jogar. É muito parecida com a II (vulgo Estado Novo) mas com outro fio de jogo e equipamento mais berrante: há eleições (nos mesmos e para os mesmos), o Parlamento funciona a meio gaz e, porque não há “alternativa” política, também não há oposição. Prevêem-se, além disso muitos pactos de regime a fazer lembrar a saudosa União Nacional!
O Dr. Jardim escusa portanto de a reclamar, porque ela tem vindo a ser laboriosamente construída desde que o bloco central tomou conta da situação. Com Cavaco Silva, registe-se.
Não será presidencialista, mas neo-salazarista como gostamos mais, uma espécie de República monárquica, com o Presidente a fazer de Rainha de Inglaterra. O gato por lebre que já estamos habituados.
Sem nenhuma ideia de Portugal, sem nenhuma ideia para Portugal, enredados no círculo vicioso das Instituições que serviram (e mal) no século XIX e hoje já não servem para coisa nenhuma, teimosamente atrelados à decadência francesa, os nossos políticos apenas sabem balbuciar – que não há “alternativa à Europa”, frase de código com que têm vindo a comprometer a força e os destinos de uma Nação com dez séculos de História!
Não há alternativa para Portugal… é no fundo o que pensam, e na sua incapacidade, querem dizer.
Ora, políticos que não apresentam alternativas ao previsível descalabro da UE, não existem e nós não precisamos deles para nada.
Entretanto, como um animal encurralado, o regime defende-se de qualquer maneira. Estão assustados, aceitam tudo em nome da sobrevivência e só assim se explica o silencioso protesto, que ninguém ouviu, quando se sujeitaram a dolorosa auto-mutilação!
Para disfarçar fingem que têm um plano. E fazem segredo como se ele existisse.
Não há plano nenhum.
Sirva de exemplo o ofício que o MNE enviou ao Governo Brasileiro solicitando-lhe “compreensão” no sentido de impedir o fluxo de emigração que se dirige para Portugal!
“Esta é a ditosa Pátria” criadora de civilizações mas que hoje não sabe o que fazer às criaturas desorientadas e aflitas que a procuram…
Mas que ideia terá este preclaro Ministro dos Negócios Estrangeiros, para Portugal, para o mundo que fala português, enfim, para o futuro da Portugalidade?
O Império bate-lhe à porta e a única coisa que tem para dizer é – tenham paciência, só podem entrar uns quantos…
Ou virá falar-nos de CPLP’S, sigla anónima e anódina de uma organização inexistente? E ainda que formalmente exista, qual é o seu rosto e qual é o seu rumo?
Não, o lema presente, e que está em vigor, é, “cada um por si e quem vier atrás que feche a porta”…
O resto, são cantigas.
Haverá esperança?
Se ao menos estes idiotas que nos governam, percebessem, que sem esses Povos, que continuam a querer viver connosco um destino comum, nós não nos justificamos como Nação independente?!
Se ao menos percebessem que serão eles, esses Povos que ainda nos procuram, que irão garantir o nosso futuro, como sempre aconteceu no passado?!
Se por fim vislumbrassem que sem essa responsabilidade Histórica, Portugal reduzir-se-á a uma pequena autonomia regional, integrada em outros voos e alugada a outros objectivos, porventura meritórios, mas que não serão os seus?! Os nossos?!
E quem duvida hoje que o nosso projecto histórico, com as suas naturais cicatrizes e incertezas, foi e é uma estrutura de serviço universal?
Que melhor prova, que essa permanente assunção de portugalidade a que todos os dias assistimos e a propósito de tudo e de nada?
E de novo esse fluxo de emigração brasileira (dos que votaram no Lula, mas não querem viver com ele), não significa ele também o regresso de alguém da família (apesar do desgaste histórico e da desconfiança mútua)?
Mas afinal quem procuram os filhos quando estão aflitos?
Claro que nós não estamos preparados para isto. Claro que falta o Rei para representar isto tudo… Mas seria bom que começássemos a perceber qual é a nossa realidade.
Quanto às “cabecinhas pensadoras”… só vão perceber quando ficarem sem emprego e perderem a importância.
Deus queira que não seja tarde de mais…

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